Quero discorrer sobre o que considero um dos temas mais importantes da psicologia: repertório comportamental, ou repertório de comportamentos. Começo com a compreensão de comportamento. Este termo, apesar de ser popularmente utilizado, se constitui aqui como conceito fundamental e, portanto, bastante diferente daquele difundido no senso comum. Em 1957, B. F. Skinner abre seu livro “O comportamento verbal” com a frase que se tornaria uma das mais mencionadas na ciência do comportamento: “Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação” (1978/1957, p.15). Esta declaração pode ser entendida como uma das mais sintéticas para a compreensão do conceito de comportamento: os processos de relação do homem com o mundo. Micheletto e Sério (1993) esmiúçam a frase de Skinner: Continue reading
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“O que os vizinhos vão pensar?”
Nossa “vida psicológica” é construída ao longo de nossa trajetória, e ela se constitui no cotidiano, na decorrer corriqueiro da rotina, a qual é recheada de interações com as pessoas, com as coisas, com o mundo. Aquilo que aprendemos ouvindo de nossos pais ou responsáveis também possui um peso grande na influência de nossos comportamentos.
“Ó, vou contar para o seu pai quando ele chegar, hein!”
Alguém aí já ouviu esta frase? É típica de algumas mães. Poucas talvez, algum dia não disseram isso! E esta frase evidencia a dificuldade da mãe em lidar com algum comportamento inadequado do filho. É natural que sentenças como essas sejam proferidas em meio à variação comportamental da mãe, quando suas tentativas de cessar as atitudes inadequadas da criança não produzem o efeito desejado, isto é, não são negativamente reforçadas. As coisas começam a complicar quando esta frase se repete. E se ela se repete é porque, em geral, a criança cessou a emissão de seus comportamentos inadequados ao ouvi-la. Quero listar algumas possíveis [1] consequências que podem decorrer do uso de frases como esta.
Notas sobre Superproteção
Os pais têm verdadeiro medo dessa palavra e suas variantes. “Superproteção”, “superprotetores”. Socialmente é mais que um rótulo. Quase um diagnóstico, pode revelar pais ansiosos, medrosos, receosos, preocupados excessivamente. E quem deseja desvelar suas fraquezas? Preocupados e inseguros, todos somos. As coisas começam a complicar quando os pequenos monstros que constituem nossa humanidade são alimentados e, crescendo, passam a ditar as regras de nossa existência. No caso do comportamento parental, ambos sofrem, mas os desdobramentos maiores recaem sobre os filhos. Este tipo de cuidado caracteriza o que nós, psicólogos analistas do comportamento, denominamos “contingência armadilha”, pois sinaliza benefícios em curto prazo, mas num período de tempo mais extenso as consequências atrasadas podem ser desastrosas e aparecer em qualquer idade. Falarei de algumas delas. Continue reading