Midiaticamente ouve-se muito e fala-se muito em alterações climáticas, aumento na taxa de emissão de CO2, sustentabilidade e outros temas ecológicos. Aparentemente esses tópicos estão mais relacionados à economia, à política, à geografia e à medicina. Pouco se diz, no entanto, como tais questões afetam o comportamento humano e, consequentemente, a saúde mental e o bem-estar. Incluídos nesses fenômenos socioecológicos estão outros problemas sociais grandes tais como o aumento exorbitante das populações urbanas, e o impacto dos produtos químicos denominados “antropogênicos” (resultantes da manipulação e produção humana) sobre o planeta.
Para conversar sobre essas conexões, o Glasgow Sustainable Development Network (Rede de Desenvolvimento Sustentável de Glasgow – centro de pesquisas localizado na Universidade de Glasgow, Escócia, Reino Unido) trouxe no dia 18 de fevereiro de 2015 o Professor Michael Depledge, catedrático e pesquisador de Ambiente e Saúde Humana da Escola de Medicina da Universidade de Exeter (Sudoeste da Inglaterra, Reino Unido) além de diretor fundador do European Centre for Environment & Human Health (Centro Europeu de Estudos sobre Ambiente e Saúde Humana). Sua exposição científica com duração aproximada de uma hora foi intitulada “Explorando as interconexões entre ambiente, saúde e bem-estar”. Eis seu texto introdutório ao seminário:
Através da história evolutiva humana temos vivido em contato íntimo com nossos ecossistemas locais. Isso envolveu ameaças à sobrevivência, advindas de diversos riscos naturais, e a aprendizagem sobre como melhorar a vida através da manipulação do mundo natural para, então, adquirir recursos. Nos últimos dois séculos, no entanto, novas formas de pensamento abriram portas para um vasta variedade de novas tecnologias que transformaram o modo como cada um de nós vive. No Reino Unido, por exemplo, uma migração progressiva de ambientes naturais para as cidades hoje significa mais de 85% da população britânica residindo em meios urbanos, construindo ambientes e, consequentemente, dando suporte à exploração de recursos naturais.
Dentre as diversas questões abordadas, os problemas relacionados ao aumento das populações urbanas, a redução do contato humano com áreas verdes e suas conexões com o aumento no número de problemas psicológicos foi tema de grande ênfase. O Professor Depledge mencionou um dos estudos que seu centro de pesquisas tem desenvolvido sobre o assunto, intitulado “Efeitos longitudinais de mudar-se para áreas urbanas mais verdes”. O projeto de pesquisa visou explorar três diferentes hipóteses sobre como o ato de mudar-se para áreas mais verdes ou menos verdes dentro das cidades poderia afetar a saúde emocional das pessoas no decorrer do tempo.
Um dos principais resultados foi o de que quando as pessoas se mudam para áreas mais verdes, elas experimentam uma melhora imediata e contínua em sua saúde mental. Os dados foram obtidos por meio da British Household Panel Survey. Os pesquisadores acompanharam pessoas por dois anos antes de se mudarem para áreas mais verdes, e três anos após a mudança. Durante esses cinco anos, os participantes da pesquisa responderam a questionários e testes psicológicos de avaliação sobre saúde mental (qualidade de vida, índices de ansiedade e depressão), de experiências que tiveram relacionadas a essas áreas verdes, bem como a questões relacionadas às melhoras que experimentaram depois de terem mudado para uma área mais verde. Através de análises estatísticas complexas, foram controladas as variáveis potencialmente influenciadoras da saúde mental no decorrer do tempo, tais como renda, empregabilidade, educação e fatores relacionados à personalidade, por exemplo.
Sabe-se que a saúde mental pode melhorar durante o decorrer da vida das pessoas de acordo com os eventos que experienciam. Por exemplo, em média, depois que as pessoas se casam, a sua saúde mental melhora, mas sua duração restringe-se a um curto prazo, voltando a um nível próximo do inicial após pequeno período de tempo. Após ganharem na loteria, também há um aumento nos índices de satisfação com a vida, mas de modo gradual, uma vez que as pessoas levam tempo mais longo para se acostumarem com o evento ocorrido. Entretanto, os achados do estudo indicaram que quando as pessoas se mudam para locais próximos a áreas mais verdes, elas experienciam uma melhora imediata da saúde mental e esta melhora mostrou-se duradoura em comparação a outros eventos da vida que contribuem para melhor qualidade de vida.
Esses resultados possuem profundo impacto para a elaboração de políticas públicas urbanas bem como para os serviços públicos de saúde. Através do desenvolvimento de áreas mais verdes nas cidades – parques e corredores arbóreos, por exemplo – devem haver resultados benéficos para a comunidade, possibilitando ao governo reduzir, em curto e médio prazo, gastos com saúde mental; além dos próprios ganhos em termos ecológicos para os cidadãos urbanos.
O gráfico abaixo mostra a diferença dos níveis mensurados de aspectos relacionados à saúde mental das pessoas que se mudaram (dentro das cidades) para áreas mais verdes (gráfico esquerdo) e áreas menos verdes (gráfico direito). A linha pontilhada marca a data da mudança para esses locais.

Extraído de Alcock et al. (2014)
Muito interessante, não é? Tenha acesso ao artigo completo em inglês no link abaixo:
Alcock, I., White, M. P., Wheeler, B. W., Fleming, L. E., & Depledge, M. H. (2014). Longitudinal effects on mental health of moving to greener and less green urban areas. Environmental Science and Technology, 48(2), 1247-1255.