Determinismo e Psicologia [Citações]

 

 

A simples proposição de que um evento no mundo depende de outro evento para ocorrer já classifica aquele como determinado.

Definimos simplificadamente o determinismo como o postulado de que todos os eventos no mundo mantém relações de dependência com outros eventos. Aplicado à psicologia, isso significa que todos os comportamentos, escolhas, ações, pensamentos e inclusive as vontades e desejos humanos, dependem de outros eventos para ocorrer. Dizer que um comportamento depende de outros eventos não significa que o psicólogo os conheça necessariamente ou completamente. Um psicólogo pode aceitar a proposição determinista mesmo sem nunca encontrar os determinantes de muitos comportamentos. O fato de alguém não encontrar os determinantes de um comportamento não significa que eles não existam.

A proposta contrária ao determinismo é o indeterminismo. Na sua versão mais radical, defende que nenhum evento no mundo tem determinantes. A ordem na sucessão de eventos seria apenas uma ilusão. Aplicada à psicologia, essa proposta implica dizer que não há determinantes externos (eg. influências do meio ambiente, passadas e presentes) ou internos (eg. desejos, configurações específicas do sistema nervoso, estados da alma, etc.) que exerçam influência sobre qualquer comportamento, seja ele humano ou não. Nosso comportamento seria completamente errático. Uma proposta como essa é anti-intuitiva e improdutiva. E anti-intuitiva porque destoa de nossa experiência cotidiana com o mundo. Ainda que frequentemente tenhamos a sensação de que nossas escolhas são livres, sabemos que propagandas, conselhos e experiências de vida, dentre dezenas de outras coisas, influenciam as pessoas. E improdutiva porque tornaria todo o empreendimento da psicologia inútil e sem sentido: se o comportamento humano forum objeto completamente aleatório e caprichoso, não há como prever o efeito de qualquer evento ou intervenção, ou mesmo explicar o comportamento de qualquer sujeito em qualquer situação. Dadas as suas implicações, o indeterminismo radical não pode ser adotado por qualquer um que se pretenda psicólogo.

Alguém poderia retomar agora a noção aventada anteriormente, de que é possível conceber versões moderadas do indeterminismo – sugerindo talvez, que desta forma seria possível defender uma ciência e uma profissão psicológicas que, apesar de procurar determinantes do comportamento humano, assumiriam que, em alguma medida, este seria livre. O problema de uma proposição como essa é que continua impossível saber ao certo até onde o comportamento é determinado ou livre, de tal modo que não é possível saber quando o psicólogo deve continuar procurando explicações para o comportamento e esperando que suas intervenções sejam efetivas ou quando ele deve abandonar esses esforços, pois o comportamento é livre e não pode ser modificado pela sua atuação. Neste sentido, na mesma medida em que se afasta da posição determinista e se aproxima da defesa do livre arbítrio, limita-se a ciência e a prática psicológica.

A defesa do determinismo, por outro lado, estimula o psicólogo (seja enquanto cientista, seja enquanto profissional de ajuda) a encontrar os determinantes dos eventos psicológicos. Em situações em que o psicólogo não consegue explicar um dado evento psicológico ou intervir sobre o problema de um cliente, se adotar aposição determinista, não há alternativa a não ser procurar outros determinantes – isto é, continuar pesquisando, mudar as estratégias de intervenção e buscar melhores resultados. Em síntese, a adoção do determinismo dificulta que o psicólogo se acomode diante de situações de insucesso ocasional.

Ao adotar o determinismo, o psicólogo se obriga a procurar incansavelmente os determinantes que podem explicar os eventos psicológicos e permitir a intervenção do psicólogo sobre eles.

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